Alguém com conhecimentos em informática e magia poderia dar-me umas dicas de modo a conseguir restaurar o sistema de Portugal para uma data anterior, tipo época dos Descobrimentos?
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
E-mail a Álvaro de Campos
Estive ontem com
o Esteves sem metafísica:
encontrámo-nos casualmente
à porta da Tabacaria.
Anda turbado com as demandas
do país, confessou-me, pesaroso.
Além disso, pesa-lhe o estigma
da sua condição de desempregado.
Pouquíssimo mais disse, o nosso Esteves.
Cabisbaixo, meteu depois o troco
na algibeira das calças e, com
um ar penetrantemente apagado,
acendeu um cigarro.
Ultimamente tenho fumado
quarto maços de cigarro por dia,
disse-me, com uma voz tão magra
quão a sua cara, antes de partir.
dinismoura
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Ainda sobre o OE
A próxima medida do Governo, que entra em vigor já amanhã, embora para o efeito tenha sido necessário chegar a roupa ao pêlo ao Tribunal Constitucional, terá como finalidade a venda ao farrapeiro do que ainda resta de Portugal.
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Tretas da treta
A proposta de Orçamento de Estado que o Governo apresentou é injusta, cega e inconstitucional. Pois é, pá. Mas e o que é isso comparado com o que se passa na Casa dos Segredos?
Nos aposentos presidenciais
Ó querido, enquanto jogavas às escondidas com os nossos netinhos, estive a ver na TVI um pouco do “A Tarde é Sua”. Olha, estavam para lá umas senhoras a dizerem que a proposta de Orçamento de Estado conduz ao empobrecimento, que diminui não sei o quê das Famílias, e que não desenvolve o país. Ai, credo, esta gente é tão trágica! Até dá nervos ouvi-las! Desliguei logo o raio da televisão!
País de merda
Portugal está numa situação de merda. É um facto incontestável. E sabê-lo, presenciá-lo, ouvi-lo e senti-lo é incontestavelmente uma grande merda.
Neste país de merda, os nossos governantes, todos eles uns merdas, só fazem merda. São portanto governantes de merda. De merda são também as suas políticas, ideias, atitudes e as merdices que engendram diariamente. Neste país de merda, os políticos ganharam hábitos de merda, sendo um deles mandar ininterruptamente os portugueses à merda. Nós, há muito numa situação de merda, obedecemos a todos estes merdas, às suas merdas e merdices, e, sem olhar para trás, seguimos em frente, vamos à merda, quando, deixando-nos de uma vez por todas de merdas, devíamos ser nós a mandá-los a todos eles à merda. Coragem de merda, a nossa. Isto é uma merda.
Neste país de merda, os portugueses, merdícolas que têm uma vida de merda, um trabalho de merda e um ordenado de merda, que têm pensões de merda e subsídios de merda, há muito estão fartos de tanta merda. A culpada é da crise, dizem os nossos políticos de merda. A crise é uma merda, uma merda que origina muitas outras merdas: desemprego, pobreza, miséria, desigualdade, violência. O desemprego é uma merda, a pobreza é uma merda, a miséria é uma merda, a desigualdade é uma merda, a violência é uma merda. A vida neste país de merda, em resultado de tanta merda, há muito ganhou o estatuto de merda. Isto tudo é realmente uma merda – uma autêntica merda.
Neste país de merda, nunca como agora se viu suceder tanta merda: é merda atrás de merda, acaba uma merda logo vem outra, avaria uma merda logo é substituída por outra. Neste país de merda, faltam muitas coisas, mas merdas não faltam. Isto é verdadeiramente uma grande merda, de uma merdice que deixa qualquer um na merda. Que grande merda, toda esta merda. Merda! Merda!
Pergunto-me: neste país de merda, quantas mais merdas serão ainda necessárias ocorrerem para mandarmos definitivamente tudo isto à merda?
Somos uns merdas. Isto, em muitos países, há muito já tinha dado merda. E da grossa.
(Publicado originalmente no no sítio bomdia.lu)
(Publicado originalmente no no sítio bomdia.lu)
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Perscrutando o âmago do quotidiano
- Que trazeis na mala, mui nobre troika?
- São cortes, senhor, são cortes.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
OE
Depois de ter examinado as principais medidas do OE
(Orçamento do Enterro) aprovado pelo governo português, papa Francisco recusa
fazer funeral a Portugal.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Aos portugueses
Em Portugal, és contribuinte, inquilino, utente, eleitor, desempregado, espectador, paciente, vítima, és defunto, reformado, incapacitado, idoso, estudante, recém-nascido, mas jamais cidadão.
Aos nossos governantes
Era corrê-los todos a balázio de carabina, a rajada de metralhadora, a obus de bazuca.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Facetas da nossa religiosidade
Os nossos governantes são, presumo eu, que nunca me engano e raramente tenho dúvidas, os políticos mais católicos do mundo. Vão todos os santos domingos à missinha e, além disso, quando se trata de obras, levam sempre um terço, por vezes até dois.
Do marketing na literatura
Estive a pensar no lançamento do novo livro de Válter Hugo Mãe e na extraordinária máquina de marketing que trabalha avidamente nos bastidores da promoção do mesmo. Accionados por esta, são imensos os cordelinhos que conseguem menear admiravelmente milhares de neurónios de milhares de cérebros, uma grande parte dos quais vai por conseguinte e decerto rumar em direcção às livrarias. Ao que parece a máquina revela-se eficaz, produtiva, fiável, a coisa funciona às mil maravilhas. Como escritor desprovido de tais máquinas, invejo quem as tem, invejo sobretudo o Válter. Ao mesmo tempo a minha inveja confessa-me que não se importava nada, mesmo nada, de ter meia dúzia de parafusos da sua máquina, duas ou três das suas roscas, uma roldana, ou até meia correia. A inveja é desumana, a desigualdade é desumana, a emulação é desumana, o marketing é desumano. Entretanto eu vou adquirir também o livro, uma atitude que, aventadas estas ilações, considero deveras desumana. No meio de tanta desumanização, valha-me ao menos a escrita do Válter, uma bênção que logra humanizar toda esta desumanização.
Tácticas
O seleccionador nacional
Passos Coelho acaba de divulgar a lista de convocados para o Torneio
Escaqueirar Portugal. O técnico português desta vez decidiu deixar de fora
Vítor Gaspar e Miguel Relvas, uma opção táctica que, segundo o próprio," não vai causar qualquer surpresa no adversário,
no entanto vai certamente injectar confiança no balneário, e isso neste momento
é o mais importante”, disse confiante. “Estamos plenamente convictos de que
mais uma vez vamos trazer para casa este prestigioso e prestigiante troféu”,
concluiu.
Carta à revista Maria
Amiga Maria, tenho 55 anos e sempre gozei de perfeita saúde. Saio ao meu pai, que sempre foi rijo como um pêro e já vai nos 98. Sou uma pessoa que desde os meus catorze anos gosta de beber uma boa pinga. Adoro cerveja e vinhaça, mas a minha perdição é a aguardente. Acontece que há uns meses atrás comecei a sentir umas cacetadas no fígado. Deve ser por causa da chocolatada, pensei. É verdade que desde há tempos tenho abusado um bocado na pinga, mas eu atirei logo para o chocolate, que até gosto de comer de vez em quando, mas a minha mulher não parava de insistir no álcool. Olhe, tanto insistiu, tanto insistiu, que acabou por convencer-me, e lá fui fazer umas análises. Fui ao médico na semana passada: a coisa acusou mesmo álcool a mais. O homem proibiu-me de beber. Fiquei doente, eu que já não adoecia desde que andei na tropa.
Entretanto, e é por isso que estou a escrever-lhe, surgiu-me uma ideia. Ela aqui vai. E se eu fizer um transplante de fígado, hein? Será que poderei continuar a beber até aos 100? Melhor ainda será, também me lembrou desta, continuar com este fígado e colocar um novo no lugar dos rins. Com dois fígados acho que posso continuar a beber até aos 120. O que acha? Preciso urgentemente de uma resposta. Faça lá o jeito o mais rápido possível, pois, por andar a beber tanta água nestes últimos dias, estou a ficar com as articulações enferrujadas. Desta maneira, já disse à minha mulher, nem ao médico conseguirei ir. Ajude-me, peço-lhe, amiga Maria.
Jesualdo Jesus
Vila Nova de Carrazeda de Cónegos
Ajuda celestial
Deus, a Imaculada Conceição e uma dúzia de santos estão a ponderar fazer uma vaquinha para ajudar Portugal no pagamento do empréstimo da troika. Dilema da minha alegria, não sei se hei-de abrir uma garrafa de champanhe ou rezar um terço.
sábado, 12 de outubro de 2013
Isto de ser português
(Somos tanto,
e tão intensamente,
que quase
não somos ninguém)
Isto
de nascermos num país constantemente às cambalhotas e em vertiginosos rodopios é
atordoante. Isto de crescermos num país onde nos exigem mil e uma licenças para
podermos viver com a mínima dignidade é indigno. Isto de envelhecermos num país
onde nos tiram a bengala e no-la trocam por uma palha é tirânico. Isto de
aturarmos governos que diariamente abrem
em cada avenida, rua, praça e esquina uma filial do Inferno é infernal. Isto de
aturarmos governos que nos demitem dos nossos sonhos é um pesadelo. Isto de suportarmos
um presente pesando toneladas de desespero é insuportável. Isto de nos vedarem permanentemente
todos os caminhos em direcção ao futuro é desumano. Isto de vivermos num país
onde nos foi penhorada a alegria é muitíssimo triste.
Isto
de ser português não é para qualquer um: é necessário ser-se corajoso, forte, indolente,
ter-se arcabouço, é necessário ser-se feito da mesma carne de que são feitos os
mártires.
Isto
de ser português é para poucos, muito poucos: é necessário ter-se amor à
camisola, conhecer todos os cantos à dor.
Isto
de ser português é não é nada fácil: é necessário ter-se em dia todos os tipos
de vacinas, é necessário ter-se pernas e pulmões que aguentem diariamente
maratonas que ultrapassam em muito os
quarenta e um quilómetros de suor e lágrimas.
Isto
de ser português é passar em todas as horas as passas do Algarve, é comer às refeições
o diabólico pão que o diabo amassou e beber o vinho cujas uvas o irmão dele
pisou, é viver com duas cordas ao pescoço, é quebrar ininterruptamente o lápis
de quem insistentemente quer riscar-nos do mapa, é viver desarmado até aos
dentes, é estar irremediavelmente feito ao bife.
Isto
de ser português é tão custoso, é tão aflitivo, santo Deus!
Dentre
os mais de seis biliões de seres humanos que por aqui andam, somente 0,14%
destes tem envergadura para carregar este pesadíssimo fardo que é isto de ser
português.
Isto
de ser português é árduo, extenuante, degenerativo, é não poder fugir.
Isto
de ser português é duro, complicado, tenebroso, atroz, é anátema e calvário.
Isto
de ser português é nefasto, doloroso e medonho, mas sobretudo é aterrador, perigoso,
horrendo, é angústia e prisão.
Isto
de ser português não é pêra doce, é um fruto amarguíssimo e duríssimo de roer.
Isto
de ser português é cumprir uma pena perpétua de existência forçada.
Isto
de ser português é morrer todos os dias por sê-lo e fatalmente todos os dias
reencarnar no próprio corpo.
Isto
de ser português é querer ser só e somente português e nada mais além disso.
Isto
de ser português é o cabo das tormentas, é ter de aguentar o paroxismo de todas
estas e outras dores.
Isto
de ser português é ter esta sentença a arder para toda a vida dentro do sangue.
Isto
de ser português é levar, todos os dias, durante toda uma vivência, uma
escaqueirante porrada com tudo isto.
Isto
de ser português… Isto de ser português é não ter outra escolha senão esta.
dinismoura
(Publicado originalmente no no sítio bomdia.lu)
(Publicado originalmente no no sítio bomdia.lu)
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
As injustiças do Comité do Nobel
Este ano pensei que o Nobel da Literatura ia mesmo para o José Rodrigues dos Santos. Azar do caraças! Foi por um triz... O Lobo Antunes ligou-me há pouco e disse-me que teve toda a manhã a fazer figas pelo Zé. Até ele, pá! Foi mais um valente Munro que a literatura portuguesa levou no estômago. Mas nós somos rijos, temos estômago para suportar tais e tamanhas decepções. O galardão foi para uma tal Alice não sei quê que mora num país maravilhoso. Para o ano há mais.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Génesis Apócrifo (excerto)
“Mas que pouca vergonha vem a ser esta!? Parem lá com isso imediatamente! O Éden não é nenhum antro de devassidão, seus malcriados. Um dia destes chateio-me a sério e ponho-os aos dois no olho da rua".
É por este motivo, e por muitos outros que o Génesis da Vulgata preferiu omitir, que Deus é considerado o primeiro empata da história.
Coisas do arco do Nobel
Batman foi nomeado para o Nobel da Paz 2013. Ah, e parece que o Putin também. À academia sueca de quando em quando dá-lhe para estas coisas. Que ganhe o mais pacificador.
Por falar em electricidade
Apanhamos com cada choque neste país. Há uns anitos, com o
governo de Sócrates, apanhámos um choque tecnológico, hoje, o nosso primeiro-ministro,
um dos principais electricistas da crise, descarregou numa conferência de imprensa que que as novas medidas previstas no Orçamento do Estado
para 2014 podem gerar um choque de expectativas. Um dia destes morremos
todos electrocutados.
domingo, 6 de outubro de 2013
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