Caro colega
e comensal neste banquete de açorda insulsa que é a vida,
Tomei a
liberdade de dirigir-lhe esta curta missiva porque, primeiro, a minha lauta
ignorância não me permite alcançar sequer os arrabaldes da metafísica, domínio
esse que é da sua alçada; segundo porque tenho para mim convictamente assente
que o seu trato com os assuntos surreais e transcendestes lhe é congénito,
fácil e desembaraçado. Bem sei que o propósito, e verá já, é supinamente
despropositado, mas creia-me que não é de propósito.
Saiba pois que
ultimamente tem adentrado o meu intelecto um desassossego daqueles que esboroam
os neurónios e destabilizam a jurisdição do epigástrio. Um suplício sem
precedentes em toda a filosofia, asseguro-lhe.
Sucede que uma
questão visceralmente ontológica, imanente e transcendente impede o decurso normal
da minha existência: Porquê? Ah, a imundice desta questão, a sua constante
presença, sombra e reflexo desconserta-me todos os mecanismos da alma. Sinto molas
a saltar, parafusos a quebrar, juntas a ceder. Porquê? Não logro uma resposta,
não ouso aventar uma hipótese. Porquê? Este nó cego cega-me o fluir das
cogitações. Porquê? Este dissílabo monocordiza a polifonia do brotar da minha
poesia. Porquê? Porquê? Detrás dos muros desta questão antevejo a loucura.
Ei-la, ali, zombeirona, a ridiculizar-me. Note o seu escarnecedor semblante! Que
cólera! Que cólera! Ajude-me, caramba!
Caro colega,
ajude-me, reitero o rogo. Ponha término a esta afronta, a esta sucessão de
noites insones e despertares sonambúlicos. Ajude-me, imploro-lhe. Só uma alma omnisciente
como a sua pode valer-me.
Submerso no lamaçal
de tudo isto, mui respeitosamente e atarantado subscrevo-me,
dinismoura.
ahahahhaah grande Dinis moura. Bravo
ResponderEliminarObrigado.
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