“Portugal
produz dois géneros de homens com uma perfeição admirável: maus políticos e
péssimos governantes” (Confidências de um
português indignadíssimo).
Este apotegma
vem corroborar cabalmente a índole – até porque primou por ambos – do biltre que
a transtornada e nem sempre honesta justiça portuguesa decidiu encarcerar preventivamente na ala feminina do Estabelecimento Prisional de Évora, onde
lhe foi atribuído o número 44. Foi um mau político visto que desde a sua
chegada à ribalta política foi sempre um sujeito medíocre, um arrivista, um
autoritário, um narcisista, um convencido, um salafrário que tratou sempre mal
os seus adversários e a maior parte dos jornalistas. Foi um péssimo governante
porque, ademais de manter invariável aquela conduta, teve por diversas vezes o
seu nome envolvido em vários processos judiciais. Porém, mais grave, muito mais
grave, foi o que fez com Portugal e os portugueses: deixou-os na penúria,
atirou o país para a ponta da cauda da Europa e atolou-os em dívidas à banca
estrangeira até, pelo menos, ao ano 2050. “If you want to test a man´s
character, give him power.” Tirada de um grande político, de um notável
governante, Abraham Lincoln, que considero assaz oportuna.
O recluso nº 44, nos mais de seis anos
em que governou o país, declarava às Finanças um rendimento mensal de 5 mil
euros, mas tinha o nome gravado na montra da House of Bijan, a loja “que veste os mais ricos”, segundo o jornal USA Today, a loja onde o “prime minister
of Portugal” comprava amiúde fatos no valor de 35 mil euros. Além de colecionar
fatos caríssimos, o recluso nº 44, nos mais de seis anos que governou o país,
coleccionou igualmente trapaças. Recordemo-las.
Iniciado em 2004, o Caso Freeport
arrastou-se até 2012, sem resultados. O recluso nº 44, que nunca chegou a ser
constituído arguido, foi um das figuras centrais sobre o licenciamento do
centro comercial Freeport.
Em 2007, durante o seu primeiro governo,
o recluso nº 44 viu de novo o seu nome envolvido em outra polémica, desta feita
a conclusão da sua licenciatura em Engenharia Civil na Universidade
Independente, em 1996. O processo, em que constavam documentos por assinar e
carimbar, contradições nas notas, datas confusas, professores repetidos, redundou
esperavelmente em nada.
Seguiu-se o
caso Taguspark. Em causa esteve o pagamento de 750 mil euros ao ex-jogador Luís Figo
para o apoio deste à campanha eleitoral do recluso nº44 nas legislativas de
2009, uma jogada que deu os seus frutos.
Em 2010 soube-se que o recluso nº 44
fora o projectista e o responsável de 26 obras na Guarda entre 1987 e o final
de 1990, numa altura em que era deputado do PS. Os projectos foram realizados a
“pedido de amigos” e não auferiu qualquer remuneração, explicou na altura o
então primeiro-ministro.
No caso Face Oculta, em que um certo
ex-ministro socialista e ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos e do
Millenium BCP foi condenado a um lustro por tráfico de influência, o nome do recluso
nº 44 também surgiu. Uma vez mais, como não poderia deixar de ser, safou-se.
Depois de sair do governo e do partido, o recluso nº 44, para vingar a
humilhação da Uviversidade Independente, decidiu ir estudar para a capital
francesa, com o objectivo de fazer um mestrado no Institut d'Études Politiques de
Paris. Enquanto por lá andou, o recluso nº 44 viveu num apartamento de 225
metros quadrados de um luxuoso prédio em pedra de talha, uma propriedade
imobiliária de 2, 25 milhões de euros situada no “seizième”, o bairro mais caro da cidade-luz, um luxo, achava
ele, que lhe cabia. O recluso nº 44 levava uma vida opulenta, a
gastar cerca de 15 mil euros por mês, isto sem ter poupanças ou emprego
conhecidos — a não ser a “fortuna pessoal que vem da mãe”. O recluso nº 44 frequentava
alguns dos restaurantes mais finos, onde as refeições ultrapassam os cem euros.
Vivia ainda com o filho mais velho, estudante num colégio privado que custava
2186 euros por mês.
Acresce a
este fausto a opípara quantia – 20
milhões de euros – que tem depositada no banco suíço UBS. Balzac escreveu uma vez que “todas as fortunas assentam num
crime." A fortuna do recluso nº 44 assenta em múltiplos: corrupção,
fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, entre outros.
Além destes factos, a
curiosidade, bem reveladora da sua personalidade, de, alegadamente, segundo
o jornal Sol, de 22-11-2014, ter comprado trinta mil exemplares do seu livro A confiança no mundo, de forma a fazer
subir o livro no ranking de vendas nacional.
Poucos dias depois, quando questionado pelos jornalistas sobre se acreditava
na inocência do recluso nº 44, o antigo Presidente
da República e fundador do PS respondeu “com certeza". Eu com certeza que também não acredito na sua
inocência.
dinismoura